Nativos Digitais
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Data: 11/2009
Título: Nativos Digitais
Veículo: Revista Dirigida
Autor: não consta
Escreveu Joseba Elola (El País de 21.12.08, p. 30) que “nativos digitais”, de acordo com Marc Prensky (que criou a locução em 2001), são as pessoas que cresceram em contato (diuturno) com a internet. Já nasceram ou pelo menos cresceram na era cibernética. Para eles não existe vida sem internet, sem redes sociais, sem comunidades, sem links, sem clics.
Os nativos digitais possuem uma enorme habilidade para fazerem múltiplas conexões simultâneas, sendo capazes de, ao mesmo tempo, ter o celular numa mão, um mouse na outra, zapear vários canais de televisão, ouvir ou baixar uma música, conversar com alguém em seu ambiente espacial, responder a um terceiro no chat etc. Esse é o nativo digital, que poderia ser chamado de homo conexionis. Ele é muito mais informado
que os jovens das gerações anteriores. Não há dúvida nenhuma. Mas deveria estar prestando atenção (sempre) no seguinte: ter contato com uma realidade não significa conhecê-la plenamente. Obter um dado de uma coisa não significa que você está informado; ser informado não significa naturalmente ter conhecimento. Cliff Stoll, um astrônomo norte americano, disse: “Dado não é informação, informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria”. Aprofundando um pouco mais diríamos:
dado não é informação, informação não é conhecimento, conhecimento não é experiência, experiência não é sabedoria. Mas você pode sair do dado e chegar na sabedoria (paulatinamente, degrau por degrau). Tudo depende do seu temperamento, das suas ambições, da sua curiosidade, da sua criatividade.
Conhecimento é compreensão e memorização
Os nativos digitais (plenos ou semi-plenos) andam conectados o tempo todo, em regra não são solitários, porque participam de incontáveis comunidades sociais, sabem tudo da vida dos “amigos” (às vezes, sem nunca ter visto de perto esse “amigo”), sabem o que (de mais relevante) está ocorrendo na sua cidade, no seu país, no planeta, contam com acesso rápido a todas as informações (é um clic e já está!). Mas o sucesso (pessoal e/ou profissional) exige mais que saber tudo superficialmente, exige conhecimento. E o conhecimento pressupõe (pelo menos) duas coisas: (a) compreender a informação (com a qual você está tendo contato) e (b) memorizar essa compreensão. Se você entrou em contado com um dado ou com uma informação e não o entendeu bem, não vai registrá-lo adequadamente. Pode até retê-lo (em sua memória), mas seria melhor que o esquecesse (porque não foi bem compreendido). Depois de bem captar uma informação ou um dado, fundamental é guardá-lo na memória (para poder utilizá-lo quando necessário). E a memorização, com frequência, exige repetição. O segredo do sucesso, aqui, é o seguinte: no momento em que você está captando (e bem entendendo) uma informação ou um dado, esforce-se para memorizá-lo como se você tivesse que dar uma aula ou fazer uma exposição (sobre o assunto) no dia seguinte. Com isso você aumenta (muito) sua capacidade de retenção. Conhecer é compreender + memorizar.
Talento + Esforço
Superioridade
Um grande volume de nativos digitais está começando a chegar para o seu primeiro emprego (privado ou público), isto é, eles estão começando a se deparar com seus primeiros desafios relacionados com a empregabilidade (estágios, trainees, primeira colocação profissional, primeiro concurso público, exame da OAB etc.). O sucesso profissional normalmente é muito difícil para todos. Em regra, não cai das nuvens. Todas as gerações (salvo momentos excepcionais de abundância de empregos, concursos etc.) enfrentaram problemas nesse item. Com certeza não será (não está sendo) diferente com os “nativos digitais” (apesar da sua intimidade e superioridade cognitiva na área da tecnologia). Mas o que faz a diferença? Não é só o talento, é também (e sobretudo) o esforço (a dedicação, o treinamento). Só o talento não basta. Só o esforço (ainda que repetitivo) não dá brilho. Baltasar Gracián (sacerdote jesuíta, nascido em 1601 na Espanha, é considerado um dos maiores sábios do Ocidente) em A arte da sabedoria diz: “Esforço e talento: não há superioridade sem essas duas qualidades. Havendo ambas, a superioridade supera a si mesma. Os medíocres que se esforçam conseguem mais do que os superiores que não o fazem”. Mas, qual é o problema? Ele completa: “É que o esforço depende quase sempre do temperamento de cada um. Contentar-se em ser medíocre numa tarefa inferior (ou não fazendo nada), quando se pode ser excelente numa atividade (ou numa atividade mais elevada), não tem desculpa”. O sucesso e a superioridade dependem de talento + esforço.
Combatendo a falta de foco
A televisão, ainda que seja digital, tela plana etc., está se tornando muito lenta para os (hiperatuantes) nativos digitais (cf. Elola, El País de 21.12.08, p. 30), ou seja, é coisa que está se tornando antiga, aborrecida, sua programação ainda não se vale da interatividade, é morosa (e pastosa). Os nativos digitais são, em geral, portadores, da “síndrome do pensamento acelerado” (como diz Augusto Cury). Contam com grande facilidade para as múltiplas conexões simultâneas. Se de um lado é certo que o cérebro do nativo digital “tem um processador mais complexo” (diz Enrique Dans, professor de informática, na Espanha), de outro, não menos correto é que isso não representa uma garantia de sucesso (pessoal e/ou profissional) automático. Mesmo quando o sucesso (alcançar o que se pretende) vem rápido, pode haver problema de sustentação (sustentabilidade). Por quê? Porque ele está acostumado a, normalmente, prestar atenção (apenas) parcial a várias coisas. O risco é que isso possa contribuir (e muito) para a falta de foco. “Um entendido sabe tudo. O sábio sabe apenas o essencial” (diz um ditado popular). Um dos segredos do sucesso, aqui, está no seguinte: não seja protelatório, dispersivo, evasivo, superficial, isto é, não perca o foco, depois que foi estabelecido o objetivo a ser alcançado. Por quê? Porque não perder o foco é a premissa básica para atuar com grande determinação. E quando atuamos com grande determinação e perseverança, no caminho correto, surgem, na nossa vida e no nosso empreendimento, forças e capacidades que (talvez) nunca antes imaginamos possíveis.
O mais importante é ter conteúdo
Quem aprende desde criança dois (ou mais) idiomas, tem facilidade para compreender outros (ainda que na vida adulta). Quem aprende desde criança a manejar o mundo da tecnologia, tem grande facilidade para captar rapidamente todas as evoluções dessa mesma tecnologia. Quem aprendeu a lidar (desde a primeira idade) com o celular “tijolão” (de antigamente), hoje não tem nenhuma dificuldade para navegar pelos modernos (e cada vez mais minúsculos) aparelhos multifuncionais. Mas toda essa capacidade tecnológica tem que ser bem dirigida, pois do contrário o rendimento em termos de conhecimento pode ser ridículo (e comprometedor do seu futuro). O segredo do sucesso, aqui, consiste em compreender o seguinte: ter mais informação do que as gerações anteriores não significa consequentemente ter mais capacidade de análise, de estudo, de investigação, de reflexão, de correlação, de comparação. Seguindo a sabedoria de Baltasar Gracián (A arte da sabedoria, p. 26), se você não tem conteúdo não tem brilho interior e o interior é duas vezes mais importante do que o exterior. Quem não tem conteúdo é pura fachada e se parece a uma casa inacabada por falta de dinheiro. Você não pode ser como uma casa que apresenta bela entrada, mas com cômodos pobres e mal distribuídos. Você não pode se esgotar nas meras saudações, tendo que cessar a conversa por falta de conteúdo. As cortesias iniciais, por mais impressionantes que sejam, se perdem quando são sucedidas de um profundo silêncio. Recordemos: “As palavras morrem quando não são reabastecidas por uma fonte constante de inteligência”. As pessoas que não possuem conteúdo podem enganar com facilidade aquelas que enxergam tudo superficialmente, mas nunca iludem as pessoas perspicazes, que logo descobrem o seu íntimo e o encontram vazio.
O êxito está no fazer
Os nativos digitais, de outro lado, tendem a não suportar a espera (são impacientes), tudo que pretendem saber está a um clic de distância, não convivem (bem) com pessoas ou coisas que aborrecem, que são pastosas, lentas, pesadas ou fastidiosas, fogem da sequência linear da informação, querem participar das vidas comunitárias virtuais, já programam suas viagens e vidas com o auxílio do computador. Não são consumidores passivos das informações, sim, ativos. Não se contentam só com “downloads” (baixar a informação), fazem seus “up-loads” (criam a informação), ou seja, atuam, agem, interagem, criam links, postam fotos, documentos, vídeos, editam páginas, são muito criativos, mas ainda copiam e colam muita coisa (em quase o tempo todo). As facilidades da era informacional e comunicacional podem gerar muita acomodação que costuma ser, normalmente, fonte de insucesso. Um dos efeitos mais nefastos da acomodação consiste na inatividade, na perda do poder de ação, que é a grande responsável pelo nosso êxito. Como nos ensina Wynn Davis, autor do The best of sucess: o êxito consiste em fazer o melhor que podemos com os meios que contamos. O triunfo, o resultado é consequência.
Fundamental é a ação, o ato de tentar. “Não se chega à grandeza de um dia para o outro. Nosso êxito reside naquilo que fazemos diariamente”. Se não fazemos nada de construtivo diariamente (no trabalho,nos relacionamentos etc.), claro que não podemos esperar êxito. O bom trabalho feito diariamente acaba se convertendo num grande trabalho. Pode até não gerar o resultado esperado, mas foi um grande trabalho.








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