20 abril 2010

Dois bilhões de laptops podem ser insuficientes para educar

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Data: 20 de Abril de 2010
Título: Dois bilhões de laptops podem ser insuficientes para educar
Veículo:
Autor:


Randall Stross
A fundação One Laptop Per Child (OLPC) é uma organização sem fins
lucrativos que pensa grande. Desde 2007, vem vendendo computadores
laptop de baixo preço e alta resistência a governos de países em
desenvolvimento. O objetivo é permitir que cada uma dos dois bilhões
de crianças nos países em desenvolvimento tenha um laptop. O avanço
vem sendo lento. Cerca de 1,6 milhão de laptops produzidos sob os
auspícios da organização foram distribuídos até o momento, disse Matt
Keller, vice-presidente de operações mundiais da organização, sediada
em Cambridge, Massachusetts. Hoje, as maiores concentrações de
máquinas do grupo estão no Uruguai (cerca de 400 mil), Peru (280 mil),
Ruanda (110 mil), Haiti e Mongólia (15 mil cada). Em 2006, o site da
organização definia seu laptop como uma tecnologia que "pode
revolucionar a maneira pela qual educamos as crianças de agora". Hoje,
a organização já não fala em revolucionar. O site agora adota termos
mais discretos, e propõe "desenvolver um recurso essencial crianças
bem educadas e preparadas". "O maior obstáculo a que levemos nosso
sonho adiante é o custo", diz Keller.


Até agora, 90% das máquinas distribuídas foram pagas pelos governos
dos países destinatários, cujos recursos são extremamente limitados.
Perguntei a Keller se os proponentes da ideia não haviam reconsiderado
a meta de "um computador por criança". "Um laptop por classe"
certamente não é um slogan tão inspirador, mas talvez seja melhor
difundir mais os benefícios em curto prazo, ajudando uma proporção
maior dos quase dois bilhões de crianças que não foram beneficiadas.
Ele declarou que uma mudança como essa estava fora de questão. "Um
para um, crianças e laptops a natureza interativa da experiência está
no cerne daquilo que fazemos", ele disse. Quando uma criança é dona de
um laptop, o horário escolar na prática cresce de algumas horas para
12 ou 14 horas diárias todo o tempo em que a criança estiver acordada,
e não importa onde. Alguns pesquisadores da Microsoft na Índia estão
estudando como permitir que as crianças usem melhor os computadores
já distribuídos, mesmo que esse uso seja compartilhado. Em um dos
projetos, programadores da Microsoft desenvolveram um software que
encaixava múltiplos cursores na tela, permitindo que estudantes
competissem ou colaborassem para responder perguntas de múltipla
escolha. A ideia foi bem recebida nas escolas, e a Microsoft deu ao
produto gratuito o nome de MultiPoint. "Por brincadeira, apelidamos o
projeto de 'um mouse por criança'", diz Kentaro Toyama, que dirigiu a
empreitada durante os cinco anos que passou no grupo de tecnologia
para mercados emergentes, parte da divisão de pesquisa da Microsoft na
Índia.

Toyama conquistou um doutorado em ciências da computação na
Universidade Yale, se demitiu da Microsoft em dezembro e agora está
pesquisando na Escola de Informação da Universidade da Califórnia em
Berkeley. Ele vem realizando palestras em universidades
norte-americanas sobre a "utopia tecnológica" que vê em iniciativas
como a do projeto One Laptop Per Child, ou Classmate PC, da Intel, e
até mesmo no MultiPoint. Ele diz que essas iniciativas se baseiam no
mito de que "a tecnologia é o gargalo, nos países em desenvolvimento".
Muitas outras coisas também representam gargalos, diz ¿ entre as quais
limitações institucionais, situação econômica, infraestrutura básica
de serviços e situação política. E tecnologia tampouco deve ser
entendida como sinônimo de educação. "Inicialmente, tínhamos a ideia
de que um computador seria capaz de compensar o absenteísmo ou mau
treinamento dos professores", disse. "Mas estudos sobre o uso escolar
de computadores pessoais mostram resultados na melhor das hipóteses
contraditórios. A maioria demonstra que uma boa escola, com bons
professores, tem usos positivos para computadores, mas não bastam
computadores para consertar os problemas das más escolas".

Ao descrever o lado utópico dessas ideias de avanço via tecnologia,
ele disse que "em resumo, todo mundo está em busca de um atalho".
Keller afirma, sobre a declaração de Toyama, que "não existe solução
mágica, ele tem razão". Mas Keller argumenta que boa alfabetização e
acesso à informação são pré-requisitos para o crescimento econômico e
político, e que "a tecnologia pode ajudar a fomentar essas coisas".
Entre os problemas de infraestrutura que a equipe de pesquisa da
Microsoft viu na Índia rural está a baixa confiabilidade da rede
elétrica. Isso levou outro grupo de pesquisa da empresa a oferecer aos
agricultores de um distrito via celular e mensagem de texto a mesma
informação que eles podem obter com o uso de computadores. Muitos dos
laptops distribuídos pela fundação One Laptop Per Child estão
equipados com paineis solares que recarregam a máquina em três horas e
permitem quatro a seis horas de uso. Keller disse que no começo do ano
que vem será lançado um novo modelo com consumo ainda menor de
energia. As novas máquinas poderão ser carregadas rapidamente, por
meio de uma manivela. Acionar a manivela por um minuto permitirá usar
o computador por 10 minutos.

Keller conta algumas histórias comoventes sobre suas visitas a aldeias
que receberam laptops ¿ e sobre a facilidade natural que as crianças
de todo o mundo demonstram no uso de laptops. "Estive em Ruanda, onde
o laptop foi introduzido em um ambiente no qual antes não havia
quaisquer aparelhos eletrônicos", conta, "e em três ou quatro dias
havia meninos e meninas de oito e 10 anos usando os aparelhos de forma
tão efetiva e eficiente quanto eu". Agora ele está tentando conquistar
verbas do governo dos Estados Unidos para oferecer a todas as crianças
do Afeganistão laptops com acesso à internet. Ao preço de US$ 250 por
laptop, o projeto custaria US$ 750 milhões. Em Cabul, ele diz, o
ministro da Educação afegão lhe disse que o projeto permitiria que
"meninas estudem e se conectem da segurança de suas casas". É uma
visão quase irresistível, mas um cético poderia apontar para as lições
da História e lembrar que a tecnologia jamais funciona de forma
isolada.

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