30 abril 2010

Academia passa a utilizar redes sociais da internet para pesquisa

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Data: 30 de Abril de 2010
Título: Academia passa a utilizar redes sociais da internet para pesquisa
Veículo: Jornal da Ciência
Autor:

Cientistas utilizam sites de relacionamento e ferramentas virtuais
para realizar seus trabalhos de campo, relacionarem-se com fins de
estudo e divulgar suas publicações para além das paredes
universitárias
Entre as vantagens dessa prática, segundo pesquisadores consultados
pelo Jornal da Ciência, estão a rapidez na troca de dados de pesquisa,
a possibilidade de integrar mais pessoas a um determinado estudo e o
aumento de informações abertas sobre pesquisas em andamento.

"Não são poucos os grupos de pesquisa que utilizam a internet como
plataforma de interação e troca de informação, mobilização, escrita de
artigos científicos etc", garante Raquel Recuero, professora do
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de
Pelotas (UCPel), no Rio de Grande do Sul, e autora do livro Redes
Sociais na Internet.
Para Raquel, as redes têm muitas outras funções. "Os sites de rede
social proporcionam maior contato com pesquisadores que focam o mesmo
objeto, que comungam de aportes teóricos semelhantes, e melhor difusão
de artigos, periódicos e revistas científicas", enfatiza.

Para a pesquisadora Maria Beatriz Bonacelli, chefe do Departamento de
Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), as redes de relacionamento podem ter ainda outras
aplicações. "Elas podem auxiliar na localização de pesquisadores para
a formação de grupos, bem como 'vitrines' específicas de profissionais
de ciência e tecnologia, como o Diretório de Grupos de Pesquisa do
CNPq e a Plataforma Lattes", analisa.

Negócio

De olho nesses potenciais, empresas e pesquisadores já constroem sites
voltados exclusivamente para cientistas. Entre eles está o Mendeley
(www.mendeley.com), que se intitula "o ITunes para artigos de
pesquisa". O ITunes é a plataforma de venda eletrônica de música da
Apple, empresa inventora do Ipod, o mais famoso tocador de música do
mercado.

O Mendeley, de acordo com seu diretor e fundador, Jan Reichelt, quer
funcionar da mesma forma, porém, voltado para a pesquisa científica.
"Fornecemos não só uma plataforma de trabalho para pesquisa, como as
ferramentas para ação colaborativa, entre elas o compartilhamento de
anotações, listas bibliográficas e meios de correspondência entre as
partes", afirma.

O site ainda oferece ferramentas de geração de citações, organização
de listas de artigos e integração com programas de produção de texto,
como o Word, a fim de facilitar a tarefa de indexação de títulos e
autores.

"O aspecto social dos dados também aumenta a transparência na ciência,
pois mostramos métricas baseadas no impacto do uso, como número de
leitores, localização dos acessos e, em breve, tempo de leitura de
cada artigo, o que provê contatos e conteúdos aos pesquisadores que
não teriam essa possibilidade antes", diz Reichelt.

Segundo dados da empresa, a rede acadêmica eletrônica abriga mais de
18 milhões de documentos, compartilhados por 250 mil pesquisadores,
envolvidos em 21 mil grupos de pesquisa abrigados em sete mil
instituições. Os brasileiros são 20 mil, nas contas de Ricardo Vidal,
gerente de conteúdo em português do site britânico. "A comunidade
brasileira está em quarto lugar no ranking, atrás apenas de EUA, Reino
Unido e Alemanha", diz.

Brasil

Outra rede social na internet que tem chamado atenção é a brasileira
Follow Science (www.followscience.com). Criado pelo programador
Cleyverson Costa durante seu mestrado em Ciências da Computação na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o site publica informações
sobre chamada de revistas e congressos científicos.

A alimentação da página é feita pelos próprios usuários, que também
podem publicar artigos que considerem interessantes e acompanhar,
gratuitamente, notícias sobre o mundo acadêmico.

"Durante meu mestrado, senti falta de um veículo que publicasse
chamadas de artigos e aberturas de inscrições para congressos",
relembra o pernambucano. "Conhecia outras redes sociais e decidi fazer
algo parecido, porém voltado para o mundo da ciência." A inspiração
veio da rede de notícias Digg (www.digg.com), também alimentada pelos
usuários, que linkam suas notícias favoritas na página e, a partir
daí, as comentam com outros internautas.

No ar desde outubro de 2009, a rede brasileira conta com cerca de mil
visitas únicas por dia, sendo a maior parte dos acessos oriunda do
Brasil, seguido por EUA e Portugal.

Consciente de seu potencial internacional, o Follow Science já possui
versão em espanhol e inglês. "O legal é que ele permite centralizar
informações ao mesmo tempo em que fomenta a colaboração entre
estudantes e pesquisadores", analisa Costa, também mantenedor do site.

No campo

As redes sociais têm gerado benefícios para diversos pesquisadores não
só por permitirem interação entre cientistas e facilitar seu trabalho,
mas também por facilitar sua comunicação com pessoas envolvidas na
pesquisa que não fazem parte da academia.

No Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Toxicologia
(INCTTox), que envolve diversas instituições de pesquisa, a
participação dos estudiosos se dá de forma colaborativa e as redes
sociais ajudam no trabalho de campo.

Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, integrante do
INCT, por exemplo, costumam se comunicar pelo site de relacionamentos
Orkut com moradores de Belterra, município paraense onde realizam
algumas de suas pesquisas.

"O projeto de pesquisa voltado para a História da Saúde em Belterra
vem acompanhando a restauração do Centro de Documentação e Memória do
município, o que é facilitado pela inserção de imagens e comentários
por representantes locais", conta Djana Contier, pesquisadora do
Núcleo de Comunicação do INCT.

"As redes sociais podem contribuir muito na comunicação entre os
cientistas e os não cientistas. É importante que pesquisadores tenham
em mente que muitas vezes esta situação os coloca em um mesmo patamar
com o público em geral no que se refere à troca de informações",
recorda. "Essa troca pode ser entendida como um desafio para a
comunidade científica - que deve entender sua importância e saber
tirar proveito desta união."

O instituto ainda busca interagir com o público em geral por meio do
site Ciência em Rede (www.cienciaemrede.com.br). A página veicula
informações sobre a pesquisa e as instituições participantes nos
estudos em forma de blog. Também estimula a participação de visitantes
e o envio de perguntas.

Perigos

Apesar do otimismo de usuários desse tipo de ferramentas e muitas
pesquisas apontarem diversos benefícios, há que se fazer algumas
ressalvas ao uso indiscriminado da internet no mundo acadêmico. Da
mesma forma que as demais redes sociais da internet, os sites de
relacionamento inseridos no conceito de web 2.0, aquele no qual a
participação dos usuários é de extrema importância para o
funcionamento da plataforma, suscitam medos.

No mundo acadêmico, há quem tema perder controle comercial sobre suas
publicações ou facilitar plágios. Ou seja, ser vítima de fraudes.
Afinal, como lembra Raquel Recuero, as redes sociais da internet são
reflexo do que acontece no mundo offline.

"Onde há maior acessibilidade de informações, há maior risco de essas
informações serem utilizadas de forma desviante", endossa. "Mas não
podemos condenar a acessibilidade das informações científicas por
conta de plágios e outras práticas que já aconteciam anteriormente. A
rede também facilita a identificação do plágio. O que temos a ganhar,
como cientistas, é muito maior do que os riscos que corremos com a
disponibilização dos trabalhos na internet."

O diretor do Mendeley, por sua vez, garante que não existe a
possibilidade de vender informações publicadas pelos autores ou mesmo
dados pessoais de quem participa da rede.

Segundo Reichelt, o site se financia por meio de cobrança a acesso
privilegiado a determinadas informações, como dados agregados, e pela
veiculação de publicidade direcionada aos usuários, de acordo com sua
navegação.

O diretor garante que a intenção da empresa, assim como de outras que
atuam no segmento, é abrir essas informações aos próprios usuários
para que eles possam construir aplicativos que tornem a comunidade do
site mais interessante. "Os brasileiros, por serem bastante
inovadores, podem se beneficiar disso", lembra.
(Marcelo Medeiros, do Jornal da Ciência)

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