29 maio 2007

Tecnologias na educação

Data: 29/05/2007
Título: Tecnologias na Educação
Veículo: Estado Minas - Belo Horizonte MG
Autor: Eucidio Pimenta Arruda

Eucidio Pimenta Arruda, Professor e pesquisador da Universidade Fumec, coordenador da especialização em tecnologias da educação
A educação a distância (EaD) tem se apresentado como uma maneira potencializadora da expansão e democratização da educação no Brasil.

No entanto, sempre me deparo com resultados de pesquisa que demonstram falta de habilidades dos professores para lidar com as novas tecnologias, baixa participação dos alunos nos ambientes de aprendizagem e comunicação, dificuldade de adequação da linguagem escolar à mídia usada no curso. Os resultados práticos ficam muito aquém do que se espera. Os usos inadequados das tecnologias para EaD podem, inclusive, refletir de maneira extremamente negativa na aprendizagem dos alunos, na medida em que uma modalidade de ensino aparentemente inovadora pode ser tratada da forma mais tradicional (no sentido negativo) possível. Entre os problemas mais recorrentes, cito: materiais didáticos que não levam em consideração o potencial intelectual do aluno acesso a um número reduzido de tecnologias, linguagem infantilizada e didaticamente incompatível com o perfil dos alunos. Prevalece ainda uma idéia de que a educação a distância é orientada para pessoas de baixa renda, que não tiveram oportunidades, ficaram muitos anos sem estudar, não têm o mesmo “pique” de um aluno jovem. O problema é que o perfil daquele que procura a EaD tem se modificado cada vez mais. No entanto, isso passa despercebido por muitas instituições de ensino. É notório que o simples zapear canais de TV com controle remoto ou os usos que se fazem do celular representam formas complexas de raciocínio e relação com o conhecimento. No entanto, prevalece ainda uma produção de materiais didáticos que, de acordo com a tese do professor Samuel Pacheco, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), segue uma lógica do modelo de ensino presencial (MEP), ou seja, de uma educação rígida, instrucional, sem abertura para processos de intervenção e construção do conhecimento pelo aluno. Ora, o que as redes atuais de comunicação mais propiciam aos usuários é a produção, controle e disseminação dos conteúdos produzidos por cada um. O MEP, por sua vez, ainda considera a escola o único lugar para acesso à informação e produção de conhecimento válido. A TV, internet, blog, Orkut e outras mídias são meios essencialmente sem qualidade, diz o senso comum da escola. No entanto, pergunto: Por que os jovens produzem tanto nesses meios e têm dificuldades em fazer o mesmo no interior da escola? Ao seguir uma linha de controle do conhecimento a ser transmitido, o MEP e os cursos de EaD acabam por desvalorizar os saberes trazidos pelos alunos a partir do acesso às mídias. O estudante, na maioria das vezes, vê-se encerrado aos materiais considerados “confiáveis” e cientificamente validados pela escola. Mas, pensemos: E se um aluno quiser produzir um vídeo e torná-lo público no Youtube? E se outro desejar não participar dos fóruns de discussão e chats do seu curso, mas, por outro lado, desejar criar o seu próprio espaço de discussão sobre assuntos do curso mais próximos de seus interesses? Pensemos ainda: Se um aluno deseja contribuir com críticas e até mesmo com intervenções no material didático produzido pelo professor? É possível que alguns digam: “Esse aluno existe? Ele produz tanto assim? Tem tamanha competência?”. Eu retrucaria: “Vide a produção colaborativa de softwares, blogs, enciclopédias, produção de legendas, entre outras”. Esse aluno, na verdade, produz mais do que a escola pode suportar – e a negativa da mesma em relação a essas produções “abertas” advém da própria estrutura de poder reinante ainda no ambiente escolar. Nesse espaço, o controle sobre os saberes e o poder da avaliação ainda configuram-se como os principais métodos de aprendizagem. Até quando a escola resiste?

0 comentários:

Postar um comentário

Publique seu comentário!

  © Desenvolvimento Equipe Led.

TOPO