Nós estamos salvando a EAD no país
Data: 30/09/2009
Título: Nós estamos salvando a EAD no país
Veículo: Folha Dirigida
Autor:
Exatos 1.337 polos de cursos de graduação a distância foram fechados pelo Ministério da Educação (MEC) em todo o país, no fim do ano passado. Os centros de apoio aos alunos não eram registrados no Ministério e, segundo o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, “estavam com oferta muito desqualificada”. Em alguns faltavam laboratórios, bibliotecas e até mesmo coordenadores. “Nós não estamos forçando a mão na qualidade. Muito pelo contrário: estamos salvando a educação a distância”, diz Bielschowsky nesta entrevista.
Qual o futuro da educação a distância no Brasil?
A escola brasileira precisa melhorar e para isso é preciso ter alguns componentes principais, como gestão, infra-estrutura, carreira e formação de pessoas. A gestão está sendo trabalhada com algumas descentralizações do MEC para estados e municípios; a carreira conta agora com o piso nacional e, finalmente, esse passo a mais para as pessoas, está no caminho certo; e um outro problema público que está sendo trabalhado fortemente pelo MEC é a questão da gestão pública. A UAB está crescendo e tem um forte programa voltado para administração pública em alguns cursos. Uma outra parte, que já está totalmente na Seed, é fazer com que o processo de educação a distância tenha qualidade no Brasil, que é de responsabilidade da secretaria.
O senhor acredita que o futuro da educação está mesmo no mundo virtual? O ambiente de aprendizado passará a ser qualquer um, e não mais apenas os bancos escolares?
O futuro da educação não está nem na educação presencial, nem na educação a distância. No futuro será difícil distinguir o que será presencial e o que será a distância. Nas universidades americanas, como a de Maryland, por exemplo, que visitei recentemente, o aluno não é do ensino presencial ou a distância; ele é aluno da universidade. Nos cursos presenciais, em Portugal e em outros países, já se está usando muito as tecnologias de ensino a distância nos cursos presenciais. A tendência é que aconteça aqui no Brasil também, e mais rápido do que esperamos. A educação a distância começou num modelo europeu nas universidades da América Latina, muito baseado no papel, que é o modelo da Uned espanhola. Foi introduzido o que hoje chamamos de ‘blended learning’, que é um modelo misto de presencial e a distância, que está crescendo cada vez mais. Acho que o futuro será de uma convergência total. Pessoalmente, gosto dessa mistura. Os cursos que criamos aqui no Rio foram assim, a UAB também tem esse parâmetro. Isso é bom porque há alunos que precisam de mais presencialidade e outros que vão muito bem só virtualmente. Quando você vai para cursos de especialização, no entanto, o mundo virtual, para quem já é mais preparado para isso, passa a ter um peso maior. Provavelmente, a parte presencial, nesses casos, vai diminuir cada vez mais.
A adoção da EAD em tantas políticas públicas já conseguiu reduzir o preconceito contra a modalidade? Temos ouvido que o mercado de trabalho ainda não tem uma boa aceitação de graduados em EAD…
É preciso tomar um certo cuidado com isso. Você tem gente formada no ensino presencial que tem muita aceitação no mercado de trabalho por causa da universidade onde ela foi formada. Outras, ao contrário, têm pouca aceitação. Na educação a distância vai ter a mesma coisa. Mas, por outro lado, é preciso ver que algumas pessoas que fizeram suas graduações a distância estão passando nos primeiros lugares em concursos públicos. O mercado de trabalho vai perceber que os alunos formados em educação a distância nas boas instituições têm boa autonomia, e tendo mais autonomia eles apresentam características profissionais importantes para o trabalho de uma empresa. Na Espanha vi anúncios em jornal que procuravam advogados formados exclusivamente na Uned. Lá, a cultura já está instalada há muito tempo. A Uned é uma instituição que notoriamente cobra dos seus alunos, que saem de lá mais autônomos.
A tendência é que os empregadores sigam o mesmo caminho por aqui?
Acho que é uma questão de cultura, de tempo. Por isso é muito importante informar que estamos regulando o sistema de educação a distância aqui no país, supervisionando os cursos, para que eles tenham qualidade e não chegue gente no mercado de trabalho mal formada. Não tenho dúvida de que na hora em que o mercado de trabalho tomar contato com essas pessoas que tenham o mesmo conteúdo que oferecem os melhores cursos presenciais, mas que têm maior autonomia pelas características que os cursos a distância acabam conferindo aos seus egressos, vai achar ótimo. No Enade, por exemplo, onde foi possível comparar o desempenho dos alunos que começaram e terminaram o curso, tivemos casos em que os dos cursos a distância foram melhores e outros em que os de cursos presenciais foram melhores. É um outro indicador de que eles estão indo muito bem, porque não houve tanta discrepância assim entre um modelo e outro.
Pois é: no fim do ano passado o MEC fechou 1.337 polos de cursos de graduação a distância em todo o país. Como a SEED viu as críticas depois dessa medida?
Nós não estamos forçando a mão na qualidade. Muito pelo contrário: estamos salvando a educação a distância. Nós tínhamos denúncias, uma competição cada vez mais agressiva entre a oferta, baixando custo e qualidade. Não tenho a menor dúvida de que com as ações que temos feito estamos trabalhando para que a oferta seja mantida com qualidade e mediando o que poderia ser uma competição sem regras. O que estamos exigindo é fácil de entender: conteúdo compatível com o curso de graduação; avaliação feita para valer, com prova corrigida por um professor na universidade para evitar que alunos do último período de Letras mandem e-mail para a Seed com ‘nós vai’, como já ocorreu; condições democráticas para que o aluno possa desenvolver seus estudos, como uma sala com computadores com acesso à internet, biblioteca e laboratórios, ou seja, tem que ter infra-estrutura e atendimento, porque o aluno a distância precisa estar mediado dentro desse processo educacional.
Há alguma resistência por parte da Seed, ou pessoal sua, de que o ensino em EAD ocorra de forma 100% a distância, isto é, sem a parte presencial, como defendem muitas instituições de ensino?
Temos um leque de modelos pedagógicos que vão do muito presencial ao virtual. No Cederj, por exemplo, o aluno pode optar se quer fazer seu estudo semi-presencial ou virtual, com as atividades de laboratório naquelas áreas que assim necessitem. Mas ele pode fazer um dos dois. Em outros casos os processos pedagógicos não dão essa opção, o que não deixa de ser uma exigência das universidades. Pode ser um processo com mais tecnologia ou mais presencial. Dá para medir isso. E um curso com bastante tecnologia é caro de manter. Mas porque o processo pedagógico está todo na internet e é caro, não significa que ele está fazendo bem ao aluno, que é a ponta principal desse processo.
Mais especificamente, como o senhor vê as críticas da Abed, que afirma que o MEC tem uma visão única e estreita sobre o que seja qualidade em EAD?
Acho que é totalmente legítimo a Abed fazer o questionamento, assim como a comissão da Câmara e outros representantes da sociedade civil. O presidente da Abed, Fredric Litto, no início, estava com esse posicionamento. Mas mostramos para ele os elementos que nos nortearam e ele mudou de opinião. Ele concordou que, por exemplo, é impossível admitir que uma instituição ofereça um curso de graduação cujo conteúdo é menos da metade do conteúdo esperado. É impossível admitir que uma instituição tenha um processo de avaliação, como nós vimos, que na realidade boa parte é feita pelo tutor na ponta com notas todas nove e dez, seguida por uma prova de múltipla escolha com média nove. Ou os alunos eram brilhantes ou esse processo de delegar a atribuição da nota ao tutor, que era amigo do aluno, não funcionava a contento. Identificamos outros elementos, outras fragilidades. Nossa impressão é que deixando claros todos esses elementos que nortearam nosso processo de revisão nós conquistamos a confiança, não só do Litto, mas também da Câmara, onde mostramos todo esse processo em uma audiência.








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