14 março 2006

Paulo Speller: Educação a Distancia em destaque

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Data: 14/03/2006
Título: Paulo Speller: Educação a Distancia em destaque
Veículo: Andifes
Autor: Rose Veronez

Ganha força no País a Educação a Distância (EaD), mais especificamente, a graduação a distância. A modalidade tem atraído cada vez mais estudantes que querem e precisam concluir o ensino superior, mas moram distante de uma universidade ou não têm tempo para passar cerca de 25 horas por semana dentro de uma sala de aula.

A flexibilidade do estudo é o principal atrativo da educação a distância, segundo o presidente da Comissão de Educação a Distância da Andifes, reitor Paulo Speller, que aposta em uma forte tendência para os próximos anos: a fusão entre a educação presencial e o ensino a distância.
Em entrevista ao Portal Andifes, o reitor Speller, que é vice-presidente da Andifes, fala dos projetos de educação a distância no País, da experiência pioneira da instituição que dirige, a Universidade Federal de Mato Grosso, e dos rumos da EaD para os próximos anos.
Portal Andifes: A Andifes, por meio da sua Comissão de Educação a Distância, deu um passo importante, aprovando a institucionalização da Educação a Distância na matriz de distribuição de recursos das Ifes.
Reitor Speller: Conseguimos aprofundar essa discussão, definir uma política para a Andifes, institucionalizando a educação a distância na matriz. O que essa discussão nos mostra? Mostra que o conjunto dos dirigentes está convencido de que a educação a distância é importante e todas ou quase todas as universidades já têm atividades ou estão formulando projetos para se envolverem com a educação a distância.
Portal Andifes: Quando foi que começou esta percepção, no âmbito da Andifes, sobre a educação a distância?
Reitor Speller: Eu fiz uma defesa, há dois anos, na Andifes, da inclusão de um parâmetro do ensino a distância na matriz. Mas todos acharam prematuro e pediram para adiar a discussão. Então, quando assumimos a gestão da Andifes, o reitor Oswaldo e eu, em maio do ano passado, decidimos criar uma comissão para tratar somente deste assunto. Era uma forma de colocar na pauta a educação a distância. A Comissão apareceu e as pessoas, interessantemente, manifestaram-se, querendo participar. A Comissão de Educação a Distância da Andifes é, hoje, uma das mais concorridas. Há muitos dirigentes que não são membros da Comissão, que é formada por oito integrantes, participando das reuniões, porque estão interessados, têm projetos, possuem alguma turma na modalidade.
Portal Andifes: A criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), uma parceria do MEC com a Andifes e o Fórum das Estatais pela Educação, é um exemplo dessa conscientização de setores ligados ao ensino superior sobre a importância da educação a distância?
Reitor Speller: A UAB é uma parceria que está sinalizando isso por meio de programas, editais e alocando recursos, inclusive docentes, o que mostra que esse é um caminho prioritário para o MEC, na expansão da educação superior gratuita e de qualidade no país.
O MEC lançou, recentemente, dentro do projeto UAB, um edital que abre para os municípios a candidatura a pólos de educação a distância. Hoje, temos um processo de expansão em que os prefeitos nos procuram, querendo criar um campus da universidade. Toda a semana, recebemos prefeitos na UFMT.
Frente a esta demanda, a UAB pode ser uma alternativa. Os municípios se transformam num pólo de educação a distância, onde terá uma estrutura física, apoio para hospedagem de instrutores, funcionários, bolsas de apoio para professores e este pólo receberá a identificação da universidade.
Portal Andifes: De onde virão os recursos para financiar a instalação desses pólos e a estruturação dos cursos de graduação a distância?
Reitor Speller: Nesse edital, podem participar tanto prefeituras quanto o governo do estado. No caso da UFMT, já estou articulando com o governo do estado, para que ele também participe.
Nós fizemos uma reunião com os candidatos/prefeitos e o governo. Esse candidato monta a estrutura física e o governo do estado entra com o dinheiro, a bolsa, enfim, cada estado deve avaliar o que e de que maneira pode financiar.
A universidade oferece o curso. Então, o município terá um campus da UFMT, onde determinado curso é ofertado, ou seja, o prefeito vai oferecer ensino superior de qualidade aos seus munícipes. Para o prefeito, isso é politicamente importante e, acima de tudo, é importante para o desenvolvimento do estado.
Além disso, o Presidente Lula sancionou a Lei nº 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, que cria bolsas de estudo e de pesquisa para professores envolvidos na educação a distância, tutores e participantes de cursos ou programas de formação inicial. Isso deve acabar com o desestímulo, o desinteresse que a maioria dos professores tinha pela educação a distância, porque existe agora uma bolsa, que chega a R$ 1.200,00 - além do salário - para professores envolvidos no projeto.
Assim, o município entrou com a estrutura física, o estado deu um apoio financeiro, a universidade ofereceu o curso e o governo colocou as bolsas. A partir daí, o programa se torna atraente. É uma estratégia inteligente e outras inciciativas, como o programa do curso de Administração da Universidade Aberta, apoiado pelo Banco do Brasil, estão surgindo.
Portal Andifes: E quanto aos recursos humanos, há professores e técnicos suficientes ?
Reitor Speller: Pela primeira vez, em dezembro do ano passado, o Governo liberou vagas docentes exclusivamente para a Educação a Distância. São 50 vagas a serem destinadas às universidades federais que já estão trabalhando efetivamente com cursos de graduação a distância.
A liberação dessas vagas já é um começo, mas precisamos ampliar muito mais o quadro pessoal, porque a falta de docentes está sendo uma grande barreira para expandir a educação a distância. A UFMT, por exemplo, está atuando na área, desde 1995, e não recebemos um centavo para isso. No último edital, por exemplo, a UFMT não entrou, porque não tínhamos vagas docentes.
Temos um número insuficiente de vagas docentes liberadas pelo governo e o quantitativo apenas repõe algumas perdas do quadro, como aposentadorias, mortes ou exonerações, por exemplo.
O estado do Mato Grosso tem uma demanda forte, porque só temos uma universidade federal, as distâncias são grandes e tudo ainda é muito precário, falta muita coisa. Então, a gente se vira como pode porque é função da universidade pública atender a essa demanda.
Também não temos técnicos. Este é um lado em que as universidades estão fragilizadas. Muitas vezes temos uma estrutura boa, mas falta pessoal com capacidade técnica para atuar e dar suporte ao docente e aos alunos, na educação a distância.
Portal Andifes: Como está sendo a experiência da UFMT, a primeira universidade federal a oferecer curso de graduação a distância no país e que possui cerca de 2.714 alunos matriculados nesta modalidade de ensino, segundo o MEC?
Reitor Speller: Nós iniciamos o primeiro curso de EAD do Brasil, em 1995. Levamos dois anos preparando esse curso, porque ninguém conhecia. Para capacitar equipe e elaborar materiais, fomos buscar apoio em uma universidade do Canadá, que realizou um curso a distância para a equipe. Nesse processo de capacitação a distância, culminamos com o projeto e com os primeiros módulos do curso. Foi muito interessante, porque uma equipe multidisciplinar, a distância, ministrou o curso, o que permitiu que os profissionais envolvidos já fossem conhecendo a modalidade e, ao final, encerramos com um seminário presencial, coordenado por um professor do Canadá , que esteve na UFMT.
Alguns cursos implantados depois, utilizaram o nosso material e a nossa assessoria, como é o caso da Universidade Federal do Espírito Santo e da Universidade Federal de Ouro Preto, entre outros.
A UFMT oferece dois cursos de graduação a distância: Licenciatura em Pedagogia para Educação Infantil e Licenciatura em Educação Básica.
Portal Andifes: Quais os principais diferenciais da EaD?
Reitor Speller: A EaD é muito exigente, tanto na qualificação de equipe, quanto na elaboração dos materiais. Os materiais devem ser de excelente qualidade e estar acompanhados de um guia de estudo, uma série de sugestões de atividades, leituras, vídeos e informações adicionais para consulta, de maneira que o aluno, que está a mil quilômetros dali, seja capaz, com uma assistência mínima, de trabalhar esse material.
A conseqüência disso é que o resultado final acaba sendo melhor. Vemos hoje que os alunos da educação a distância estão saindo melhor formados que os da educação presencial. O estudante da educação a distância geralmente tem outra motivação, de quem está longe, está isolado, então, ele absorve aquilo de uma maneira diferente, muitas vezes, com mais interesse do que aquele que está na capital e tem acesso fácil ao ensino superior. A flexibilidade de estudo também faz parte desta motivação, pois oferece ao aluno a opção de estudo no horário em que ele julgar mais apropriado.
Portal Andifes: E como é feita a avaliação dos cursos a distância e desses alunos?
Reitor Speller: Há uma preocupação muito grande, por parte do MEC, quando credencia uma instituição, de que haja esta avaliação. E eles, de uma maneira um pouco conservadora, tem colocado a seguinte posição: a avaliação dos cursos a distância deve ser igual a de um curso presencial. Então, exige-se que a avaliação seja feita presencialmente e não a distância, para que seja controlada a qualidade do ensino, como na educação presencial. Os critérios utilizados e a normatização são os mesmos, inclusive, para a avaliação dos alunos, que também precisam fazer o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, Enade. A avaliação é um dos elementos fundamentais da educação e também na formação a distância.
Portal Andifes: Qual a tendência que o senhor observa para a educação a distância no Brasil nos próximos anos?
Reitor Speller: Daqui a 10 ou 20 anos, não existirá mais uma diferenciação entre presencial e a distância. Estamos incorporando os avanços tecnológicos à educação de uma forma geral. A tendência é de que haja uma convergência entre as duas modalidades, porque na educação a distância os alunos estão solicitando atividades presenciais, e vice-versa. A vantagem disso é a flexibilização.
Posso ser um professor tradicional, mas tenho ao meu alcance uma série de ferramentas da educação a distância que vai auxiliar nas minhas aulas. Por exemplo, a internet dá acesso a inúmeros textos, periódicos, vídeos, enfim, informações do mundo inteiro, que posso indicar aos meus alunos.
Até a aula pode ser gravada e o aluno que não esteve presente poderá assistir ou vê-la novamente. E isso é algo extremamente barato para as universidades. São atividades presenciais, acessadas por meio da tecnologia.
Há experiências, como na Espanha, onde a Universidade Aberta da Catalunha não é uma universidade a distância, é uma instituição virtual, o que significa que todas as suas atividades são virtuais. É a radicalização do processo. Tudo ocorre via internet, via correio, via tecnologia, na universidade inteira.
Finalmente, não seremos mais capazes de distinguir o virtual do presencial.

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