Desafios da ciência e da tecnologia
Data: 29/05/2009
Título: Desafios da ciência e da tecnologia
Veículo: Estado de Minas,
Autor: Marco Antonio Raupp
Nos últimos 50, 60 anos, a atividade organizada de produção de conhecimento científico estabeleceu-se no país. No centro desse processo, estiveram a institucionalização da pós-graduação e a estruturação de um sistema de financiamento à pesquisa científica. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e as fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs) foram e são agentes executores dinâmicos do processo. Como indicador do êxito desse sistema, o Brasil participa com 2% da produção científica mundial, resultado bastante significativo, pois mostra que o nosso sistema básico de produção de ciência está do “tamanho econômico do país”, já que esse índice é basicamente o mesmo da participação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no PIB mundial.
Estabelecida essa plataforma básica de ciência e tecnologia (C&T), temos então a responsabilidade de ampliar, com qualidade, o sistema existente e também dedicar atenção às demandas do desenvolvimento do país. Isso implica enfrentamento de desafios que merecerão esforços iguais ou maiores que aqueles já empregados na construção do sistema básico de C&T. Apresento aqui cinco desses desafios, cuja superação é crucial para a saúde e o bom funcionamento do próprio sistema de C&T, para o reconhecimento de sua utilidade pela sociedade e para que as atividades dos cientistas contribuam também para o equilíbrio social e regional no país. O primeiro deles é a deficiente educação básica e média. A superação desse desafio requer o engajamento da comunidade científica. Não podemos nos furtar à participação, especialmente na questão do ensino das ciências e das matemáticas. As nossas melhores universidades devem dar prioridade à formação de bons professores, e em boa quantidade. Isso não vem ocorrendo. Pelo contrário, a formação de professores está cada vez mais sendo relegada àquelas mais destituídas de condições e qualidades. Educação é o mais importante requisito para a inclusão social.
A ampliação de vagas nas universidades públicas, sem perder a qualidade, é outro grande desafio. A vaga em instituição pública é a que de fato está aberta para os filhos da nova classe média, e o atendimento da demanda por profissionais de ensino superior e técnico é prioritário para o desenvolvimento brasileiro. Temos que garantir a expansão, especialmente, das faculdades de tecnologia e das escolas técnicas, tão necessárias. A ciência brasileira está cerca de 70% localizada na Região Sudeste. Por razões estratégicas e de justiça federativa, é uma situação que não pode perdurar, constituindo-se num desafio para as políticas de C&T. Temos que redirecionar investimentos federais e estimular as FAPs locais, de norte a sul, como já vem ocorrendo em alguns estados. É imperativo a melhor distribuição das atividades de C&I no país, contribuindo para a superação das desigualdades regionais. Outro importante desafio a ser enfrentado é o de aproximar o sistema universitário das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas. O Brasil já aprendeu a transformar recursos financeiros em conhecimento; agora, precisamos aprender a transformar conhecimento em riqueza. Além do estímulo à participação de pesquisadores em projetos de interesse das empresas, mecanismos como incubadoras de empresas nascentes nas universidades, parques tecnológicos congregando universidades, centros de pesquisas e empresas com interesse em tecnologia e inovação podem ser estimulados por políticas públicas para criar pontes de cooperação, em benefício da economia do país.
Há também o desafio de criar marcos legais coerentes com as atividades próprias do universo da ciência e da tecnologia. Legislações desenvolvidas em outras épocas e situações, voltadas para outros propósitos, são confrontadas e/ou questionadas sistematicamente pelas atividades demandadas pelo desenvolvimento científico e tecnológico do país. São exemplos a coleta de material biológico de nossa biodiversidade, o uso de animais em experimentos científicos, a coleta e o uso de células-tronco embrionárias, as impropriedades legais na cooperação entre entidades científicas públicas e empresas privadas, o regime ultrarápido nas importações de insumos científicos e muitos outros.








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