30 abril 2009

EaD ou não? Eis a questão

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Data: 04/2009
Título: EaD ou não? Eis a questão
Veículo: Revista Dirigida
Autor: Débora Thomé

O emprego de estratégias permite uma revolução no sistema de ensino e educação tradicional, que já não atende mais às principais necessidades do mundo moderno. Mas, em quais casos é realmente vantajoso para as instituições de ensino investirem no modelo EAD?

Com o crescimento da educação a distância, inúmeras instituições de ensino superior têm procurado implantar projetos na área. Mas desenvolver a EAD não é uma tarefa simples para uma universidade. Envolve grande esforço institucional e riscos. Muitos projetos iniciados não tiveram continuidade ou não alcançaram seus objetivos por falta de planejamento. Por isso, há ainda quem defenda a resistência de apenas seguir modismos.
“Esse fenômeno se parece muito com a febre do comércio eletrônico. De repente surge uma crença generalizada e sem fundamento que ninguém sobreviverá sem dominar a EAD”, disse o professor Charles Benigno (foto ao lado), ressaltando que há muito de mentira e um pouco de verdade nessa crença. “Muito de mentira porque esse não é um modelo de ensino que resolve todos os problemas de competitividade, sobrevivência e custos de uma instituição. Um pouco de verdade porque a longo prazo várias tecnologias e metodologias utilizadas em EAD serão incorporadas ao ensino presencial, e quem não entender isso ficará para trás.” Para Benigno, que atuou no processo de implantação do Núcleo de EAD da Universidade da Amazônia (Unama), em 2000, é preciso definir claramente os benefícios que se espera obter com a EAD. Por isso, antes de uma instituição iniciar a implantação e o investimento de recursos na modalidade, é importante
buscar respostas que servirão como diretrizes para suas ações. “Resumidamente, são quatro as principais perguntas que devem ser respondidas: por quê, para quem, com quem e como. Após respondidas essas perguntas é que poderá ser avaliado o sucesso da iniciativa, pois sucesso é atingir o que se quer, mesmo que seja um objetivo tímido como implementar disciplinas a distância na grade curricular”, disse Benigno.

É fato que as transformações técnico-científicas, econômicas, políticas e sociais determinam às instituições de ensino a necessidade permanente de uso de novas tecnologias. Mas a EAD traz consigo novas formas de organização não apenas do ensino, como também do trabalho dentro das instituições acadêmicas. E dentro desse novo cenário há várias alternativas para viabilizar a oferta de seus serviços. Uma das primeiras perguntas que o gestor de uma instituição de ensino deve se fazer ao decidir ofertar educação a distância está relacionada ao sistema — se mediado pela internet ou pela transmissão por satélite. Além de seus diversos desdobramentos e peculiaridades, como
alcance, custos, vantagens e desvantagens de cada um dos sistemas. “Isso não é garantia de sucesso. Mas, por certo, reduz em muito as possibilidades de fracasso”, disse Benhur Gaio, coordenador dos cursos de EAD do Grupo Educacional Uninter, formado pela Facinter (Faculdade Internacional de Curitiba) e Fatec Internacional (Faculdade Tecnológica Internacional de Curitiba), que conta com 600 pontos de presença espalhados pelo Brasil para receber os alunos dos cursos a distância. Benhur Gaio conta
que, na Facinter, a opção por acompanhar as principais tendências da formação legal da EAD no Brasil amadureceu rapidamente. Segundo o coordenador, o grande desafio, na época, é o mesmo enfrentado por muitas instituições que ainda hoje iniciam sua caminhada em direção à EAD: a capacitação profissional de docentes para operar todas as novas tecnologias. “O educador tem que assumir o papel de construtor, lapidador de ambientes e metodologias que propiciem um aprendizado dinâmico. Seu novo papel será o de estimular a colaboração entre os alunos no processo de aprendizagem. Só assim o resultado alcançadoé satisfatório”, disse o coordenador do Grupo Uninter. Os especialistas no assunto são unânimes, enfim, ao afirmar que as instituições de ensino que desejam ingressar na área precisam repensar a forma de investir seus recursos de informática e de tecnologias da informação.É ponto pacífico que o modelo de grandes laboratórios de informática está superado e que as novas ferramentas década vem fazer parte do cotidiano dos alunos e professores como qualquer outro equipamento de uma sala de aula convencional.“O futuro da EAD em ambientes acadêmicos aponta para a formação de alunos em todos os níveis que estejam adaptados às tecnologias, sejam independentes no processo de aprendizado e tenham um desejo intenso de pesquisa, aliado à capacidade de gerir o conhecimento adquirido”, disse Benhur Gaio.

MEC regulamenta e fiscaliza

Passados pouco mais de dez anos desde o início do primeiro curso de graduação distância, oferecido pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a modalidade evoluiu em vários aspectos e se consolidou. Hoje, o sistema de educação a distância brasileiro é formado por 109 instituições, das quais 49 particulares e 11 comunitárias e confessionais, além de 49 públicas — universidades e Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Cefets). Nelas estudam 760.599 alunos, segundo o MEC. Dados do Censo da Educação Superior mostram que, de 2003 a 2006, os cursos de graduação a distância cresceram 571%. Em 2007, o MEC publicouuma série de referenciais de qualidade para regular o setor. Segundo o MEC, hoje, a expansão do sistema está acelerada e grande parte dos cursos está qualificada. O ministério trabalha, agora, em um amplo processo de supervisão para que a qualidade seja mantida. Prova disso foi a desativação de 1.337 pólos em todo o país em novembro de 2008. A primeira versão dos referenciais de qualidade para educação a distância foi elaborada em 2003. Com a dinâmica do setor e a renovação da legislação, uma nova versão foi divulgada em 2007. Esses “Referenciais de Qualidade”, como se convencionou chamar o documento, embora não tenham força de lei, servem como cartilha para os processos de regulação, supervisão e avaliação da modalidade.São esses conceitos que orientam a implementação de cursos em EAD em instituições que, agora, decidem investir na modalidade. O Ibmec é o mais novo integrante desse grupo. Já a partir de maio, serão oferecidos 15 cursos a distância, todos de pós-graduação, voltados para as classes Ae B, com custos a partir de R$18 mil.

As perguntas básicas antes de implantar o sistema...

Para quem?
Quem serão os mais beneficiados com a implantação da EAD? Qual o público-alvo dos projetos? A universidade atende os mais variadospúblicos: docentes, discentes, comunidade, organizações públicas e privadas. Determinar “para quem” é definir claramente os públicos que serão atingidos e os benefícios esperados para cada público. Isso influencia diretamente a abrangência dos projetos. Pela falta de definição clara neste aspecto, alguns projetos atendem muito mais aos objetivos acadêmicos de um pequeno grupo de pesquisadores do que aos discentes ou à própria universidade. Outros projetos buscam, pura e simplesmente, o retorno financeiro, sem a preocupação de formar o discente como um ser pensante. É o caso de muitos projetosde EAD desenvolvidos por universidades corporativas. A preocupação se concentra muito mais nos resultados que o discente trará para organização do que nosbenefícios pessoais gerados para o discente.

Com quem?
Depois de refletir sobre as duas questões anteriores, é preciso pensar quem se envolverá no projeto de EAD. A instituição pode optar por envolver pesquisadores, gestores acadêmicos, discentes bolsistas, empresas fornecedoras de soluções, firmar convênios com outras instituições ou contratar consultores. É preciso decidir se a forma de implantação será resultado da discussão de vários setores (geralmente formando comissões) ou será decisão de órgãos executivos (reitoria, pró-reitorias, diretorias, coordenações). Pode ainda deixar a gerência da EAD a cargo de uma pró-reitoria, de uma diretoria específica, de um núcleo de pesquisa.

Por quê?
Desenvolver a EAD dentro da instituição é prioritário? A ausência de know how na área comprometerá o futuro da instituição? Até que ponto? Nesse processo, segundo especialistas,pode-se, por exemplo, chegar à conclusão de que a EAD não comprometerá a sobrevivência da instituição, que não é essa sua vocação. Pode-se também chegar à conclusão que a EAD deve ser implementada apenas por necessidade de desenvolvimento metodológico, para agregar valor ao ensino presencial. Ou, pelo contrário, pode ser estratégica para atingir novos públicos, ampliar sua atuação geográfica e a base instalada de discentes.

Como?
Muitas dificuldades podem aparecer neste momento. Principalmente porque é neste ponto que se tem a real dimensão dos recursos financeiros envolvidos, dos problemas a serem superados e das limitações da própria instituição. O “como” na implantação da EAD envolve as questões do tipo: onde está o público-alvo? São nossos discentes, são novos discentes, estão dentro ou fora da universidade? Estão concentrados ou dispersos geograficamente? Têm acesso à tecnologia? Podem se deslocar para polos, ou é preciso ir até eles? Este momento implica também em definir a metodologia, as mídias a serem utilizadas, a operacionalização, o sistema de apoio ao discente, a necessidade de capacitação de docentes, entre outras coisas. Na ausência de estrutura interna e recursos suficientes, podese optar por terceirizar alguns serviços (produção de webpage, provedores de internet, revisores de texto) ou, ainda, comprar conteúdos e tecnologias e/ou adotar soluções caseiras.

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